quinta-feira, 5 de junho de 2025

Белое море

Se eu e você, querido desconhecido, vamos morrer, então que seja como homem e mulher. Dois contra um; contra a palpavel destruição. O sabor do fim impregnado nas pontas de nossas línguas, na boca toda.
O aviao cargueiro voava tão baixo, que a tridimensionalidade dos prédios e galpoes saltava aos olhos, fazendo nossos frageis corpos encolherem-se até doer. Como se encolher-se fosse evitar a pulverizacao do fim, os membros espalhados por raios de metros ao redor.
Atraves dos vidros do cockpit, observamos a cidade industrial completamente deserta. O branco, e o negro azulado do oceano intercalavam-se enquanto a aeronave mantinha seu voo rasante ao chão. O piloto era um sádico, e nossos gritos desesperados - meus e do comissário - eram combustível para sua loucura.
O comissario de bordo tornara-se atraente. Russo, deveria ter por volta de uns cinquenta. A barba por fazer, pequenos pêlos brancos despontando no queixo, um bigode vasto, ainda negro, e olhos castanhos emoldurados por cima, pelo quepe de aviaçao.
Nao entendia nada do que ele dizia. Arriscava frases em ingles que ele parecia entender o sentido. Não entendia, era só desespero.
- I need to go out of here. I need to take a flight to.. - pra onde era mesmo que eu ia? 
Encaixei meu corpo no dele com um abraço frontal. Trocamos um beijo. Nos olhamos nos olhos, antes de olharmos juntos pela janela. Nos abraçamos muito firme, milésimos antes de sermos engolfados pela imensidão glacial.






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Mesmo que siga sozinha. Não estou sozinha.