sábado, 23 de setembro de 2023

Seis meses

Seis meses que parti em viagem, certa de que o que tinha construído ao meu redor não era mais resposta para minhas agonias.

A primeira pessoa com quem falei aqui no bairro foi um segurança. Rodrigo, o nome dele. Ele nunca soube que quando o abordei perguntando se a rede de uma certa telefonia móvel havia caído, estava tendo uma crise de pânico. Ele foi simpático, e alguns minutos depois supôs que eu estava flertando.

O primeiro lugar que entrei foi uma cafeteria, procurando por um wifi, logo em seguida de ter conhecido o Rodrigo.

Entrei segurando as lágrimas, com meu doguinho na coleira:

- Vocês tem wifi? - com a resposta afirmativa emendei a segunda pergunta - pode entrar com cachorro?

Assim que sentei à mesinha de madeira, tentei ligar para algumas pessoas. Estava desesperada. Sem internet, sem wifi, sem celular, sem computador, numa casa completamente nova, longe de todo mundo.

O Rodrigo nao trabalha mais na farmácia, nunca mais o vi, e o café fechou. Sempre me seguro para não chorar quando meu cachorro sobe a rampinha para entrar na loja, que agora está permanentemente fechada..

Me segurava. Hoje ele nao tentou entrar no café. Esqueceu, desencanou.

Tudo isso é um murro na cara sobre a impermanência do mundo. Seis curtos meses e o que era já não é mais. Uma impermanencia que quer por uma pessoa como eu de joelhos. Olhem o que tenho?! Pouquíssimos rudimentos para lidar com essa onda aterradora de verdade. Meu castelinho é de areia! Nao possuo habilidades de yoga, meditação, ou qualquer outra atividade dessas que salvam a alma. Sou só uma sobrevivente. 

Nessa noite de sábado (hoje, por acaso!) pensei em gritar por socorro. Mas também me senti livre. Sem ninguem, mas tambem, SEM NINGUÉM, me entendem?

Tenho meu doguinho, que é um companheiro. Ele me vê chorar, me ve rir, me olha com cara de que tá entendendo tudo que fico falando o tempo todo que estou com ele. Ele sabe “a cara” de quem entende tudo. Muito querido.

A vida é impiedosa. Muitos não sentem, nao percebem, mas os artistas…estes sentem todo o peso da agua.

Sigo, mas não tão mais certa sobre minhas antigas construções, nem sobre minhas atuais perguntas. Singro, porque como integrante desta vida, não há outra forma.






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Mesmo que siga sozinha. Não estou sozinha.