sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Janelas

Se eu conhecesse muitos escritores, talvez confirmasse algo que todos têm em comum mas dificilmente perceberão.
A atração magnética por janelas e suas cortinas ou venezianas entre abertas. O desejo de sorver a vida secreta de quem ali vive. Os porta retratos, a disposição do televisor - quase sempre ligado - na sala, as poltronas de florezinhas antigas ou sofás monocromáticos.
Durante as tardes, o cheiro de amaciante de roupas atravessa os vitrôs e avança sobre os quintais, desprendendo aromas de saudade. No meio da tarde, o petricor das calçadas varridas com água de mangueira empresta às janelas um ar de frescor. À noite a luz da sala é solitária pois quase sempre se está na cozinha. Banheiros se acendem e apagam num estalar de alguém que busca um comprimido, talvez una escova de cabelo.
Escritores sentem até o cheiro das roupas nos armários. Podem jurar que só de ver a transparência das cortinas, sabe tudo sobre os que ali habitam. 
Escritores são atraídos pelo mistério do que eles mesmos não são, e também jamais gostariam de ser.
Passam, observam, imaginam, se servem de historias inventadas e partem; o sabor está em nunca pertencer..

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Mesmo que siga sozinha. Não estou sozinha.