segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Aranhas e Escorpiões

Para todas as histórias precisam existir lugares, tempos, sociedades. Os humanos precisam ter os pés no chão para que os fatos se desenrolem e talvez seja esse o motivo da limitação que os persegue desde então. Ser gente quase sempre significou ser limitado.

Só que essa história começa sobre trilhos que atravessam uma cidade, centenas de metros acima do caos, ligando uma zona pobre a uma zona extremamente rica, e talvez por isso, por estar tão longe do chão, ela tenha extrapolado todas as dimensões.

Centenas de anos à nossa frente, essa sociedade decidiu esquecer seu passado. Na realidade a decisão foi tomada por poucos e imposta a todos. A nova teoria proposta por influentes estudiosos do comportamento humano circulou apenas entre mentes seletas. Humanos sem raízes eram mais dóceis e manipuláveis para quaisquer direções que fossem a economia e a política.

Pois bem, o ano era 2500 e não restaram vestígios de mapas antigos, de civilizações arcaicas, ou de qualquer outro acontecimento histórico humano. Minto. Sobreviveu a história de Cristo, com seus farrapos e sua cruz, contada agora através da língua Pater, idioma (convenientemente) universalizado. A Igreja Católica jamais abriria mão do poder de seu mito, conquistado através de séculos de dominação e manipulação.

O mundo então era uma visão tenebrosa. Em meio a um deserto cultural encontrava-se um monumento erigido a deus e seu filho e a sociedade ao seu redor perdia-se entre tempestades violentas de areia.

Era de manhã, e Isadora olhava o horizonte onde o relevo de concreto corria em sentido contrário ao trem embarcara. De braços cruzados sobre sua mochila pesada e suja ela aparentava ser apenas uma jovem excêntrica aos olhos dos outros. Por dentro, enquanto os vagões rasgavam a cidade, sua mente fervilhava inquietações e contradições.

----------------

Continua....

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mesmo que siga sozinha. Não estou sozinha.