O portal, por si só, era profano.
Agachei-me atrás da fila de pessoas que entravam, e quando o corpo à frente desapareceu, apoiei-me sobre os joelhos e segurei a porta para que não se fechasse. Mesmo sobre eles, era preciso curvar as costas e abaixar ainda mais a cabeça para acessar a diminuta passagem.
Atras da porta que forçava aberta havia outra identica, e projetando o corpo para dentro, com o objetivo de impedir que se fechasse, avancei engatinhando para abrir a segunda, e logo em seguida a terceira.
Para minha surpresa, era como se adentrasse o corpo de uma criatura. As portas ofereciam resistencia de pedra apenas até serem deslizadas, e assim que meu corpo as atravessava, tornavam-se gelatinosas, flácidas sob minhas maos. O chão, o portal, o teto; cediam e dançavam como o corpo de uma serpente.
A Igreja católica era, sem dúvida, profana - constatei - e o secreto e diminuto portal atras do altar era a prova disso.
Engolfada pela escuridao, rastejei ate notar que a textura tridimensional deixara de pressionar os limites de meu corpo e assim que senti possivel, ergui-me sobre duas pernas na penumbra: havia chegado num salão em formato de nave, ocupado por uma pequena multidao.
No escuro, a musica comecou a soar. Indiana. Exótica.
- em estudo -
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