Numa cidade de concreto muitos anos depois de nós. Ninguém sabe o que é fim porque (sobre)vivem no pós, e portanto não fazem idéia nem do que seja “começo”.
Na varanda de um prédio fantasma, uma mulher de cabelos longos e negros, com os pés sobre um banquinho, ameaça atirar-se de costas, 480 metros abaixo.
Chove sem tréguas, e ninguém a observa além de mim.
Atrás do colosso de concreto um enorme tubarão branco pendurado pela cauda enverga o corpo numa curva que termina nos dentes arreganhados.
O peixe é um troféu humano e deve significar algo para a populaçao daquela cidade.
O concreto claustrofóbico, o tubarão, e a menina na varanda; tudo sobreposto pela chuva negra do fim.
Ela murmura para si algo que jamais saberemos. Ali permanece de cabeça baixa, cabelos e roupas molhados fustigados pela agua negra.
A mão do medo acaricia minha pele. Observo enquanto posso.
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