A luz do dia desmaiava no céu, o sol já havia desaparecido. Em instantes, as estruturas metálicas das barracas montadas sobre a enorme extensão de areia tornaram-se negras, dissolvendo-se na noite.
A chegada da escuridão me provocava terror e os resquícios de sanidade beijaram-me a testa e despediram-se sem demoras, deixando-me só.
Como havia ido parar naquele lugar sem lei? Onde humanos podiam assassinar, torturar, estuprar e tudo o que sua mente sugerisse fazer, em bandos ou sozinhos? Descobri que essa seria minha menor preocupação. Precisava fugir dali, desaparecer - mas como?
O ar se adensou, e tudo em minha frente nao passava duma unica dimensao preta de pura agonia, onde um passo a frente poderia significar uma faca nas entranhas, um tiro, um golpe inesperado no corpo, uma queda.
Não havia eletricidade. E quase não havia fogo.
Grupos passavam cruzando-se uns contra os outros na escuridao, gritando ameaças, cantando músicas, bradindo armas metálicas improvisadas.
Eu ia morrer e a certeza do fim na violência é a pior espera. O medo dá gosto de sangue na boca.
Corri sem rumo, esgueirava-me entre barracas.
Quando uma tocha iluminou os rostos coléricos de um grupo pelo qual passei, percebi os olhos de um homem terrível obcecados por mim.
Era isso…
Continua dps